sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Capitulo 3



Nova York
Novembro de 2012


Gabriel, um dos homens mais importantes do mundo, estava sentado em sua poltrona luxuosa de couro, na cobertura de um de seus numerosos edificios no coraçao de Nova York, The Touraine. Construido por uma de suas varias companias publicas, a Toll Brothers, os apartamentos do predio aonde ele morava tinham um preço inicial de $20 milhoes de dolares. Sua cobertura foi construida especificamente para ele, com uma decoraçao rustica, relembrando as cortes Italianas entre os anos de 1400 e 1450, mas sem muitas cores ou luxo, mais parecendo uma corte de um rei guerreiro do que de um rei pomposo. As paredes eram de concreto com acabamento em pedras rusticas cinzas de varios tons diferentes. Espadas pinduradas e armaduras antigas decoravam o local, bandeiras antigas de idades diferentes, representando varios imperios que um dia significavam tanto para ele. Cada bandeira representava uma vida, um nome assumido, alguns amores, e mortes incontaveis, de inimigos e inocentes.

A primeira bandeira e a mais antiga era de uma legiao Romana, sua cor vermelha e dourada ja desbotada. Essa era a bandeira que ele mesmo carregava em batalha quando era jovem, ele tinha um carinho especial por ela, porque foi nos campos de batalha romano que ele com apenas 15 anos matou pela primeira vez. Aquela epoca o formou como homem e o ensinou sobre a crueldade humana. Debaixo da bandeira romana de sua legiao estavam pinduradas as duas espadas gladius que ele carregava na epoca como se fossem parte de seu corpo. Seu corpo foi forjado nos campos de batalha, e sua mente amadurecida com as filosofias de vida de Epictetus, seu antigo e primeiro mentor. Vinte anos ele deu para o mais grandioso Imperio que o mundo ja viu, e sua carreira acabou quando ele afundou sua lamina no pescoço do Imperador Caligula. Um Imperador Romano que se deliciava em prostituir as esposas dos Senadores, ate que um deles pagou Gabriel para manda-lo para inferno, mas isso era apenas uma memoria agora, da vida que ele conheceu quando seu nome era Cassius Chaerea. Logo depois desse evento, ele embarcou em uma outra jornada...uma pela qual a unica saida era a completa destruiçao de seu corpo.

Gabriel olhou para as sombras, sua mente se enchendo de um presentimento, percebendo que ele nao estava mais sozinho. Gabriel relaxou em sua poltrona continuou a ler o livro que estava em suas maos, com um sorriso de quem estava achando graça da situaçao.

"Voce ja leu a biblia?" Perguntou Gabriel a escuridao, folhando uma das paginas de seda, sua voz se espalhando pela sala, enchendo o vazio.

Das sombras, um par de olhos amarelos como ouro observavam o homem que estava sentado e lendo. Ele estava usando um terno de tres botoes preto, uma camisa branca de seda por baixo, sapatos negros e lustrados brilhavam abaixo da luz das chamas de sua lareira. Gabriel tinha cabelos escuros e bem cortados, longos ate o pescoço penteados para tras, labios finos e um nariz romano encurvado elegantemente. Um rosto feito para comandar autoridade e impor respeito, mais do que instigar o desejo carnal de mulheres, mesmo assim seu charme sempre seduzia a quem ele desejava. Suas maos folhavam o livro casualmente, aneis de ouro e pedras preciosas em tres dedos de cada mao, uma corrente grossa de ouro no punho e pescoço decoravam seu porte atletico e autoritario.

"Eu tenho um carinho por esse livro. Nao sei se voce sabia, mas meu avo participou da crucificaçao de um dos homens que foram crucificados com Cristo. Ele estava la naquele dia. Meu avo, que foi um capataz, um cao romano que matava filhos ainda na barriga de maes, morreu jurando que Cristo era o filho de Deus. Ainda posso escutar a sua voz, cheia de tanta certeza...tanta fe...Ele morreu um homem cristao, e tambem meu pai e seus irmaos..." Disse Gabriel, com uma calma estoica, ainda se dirigindo as sombras, como se estivesse falando com alguem presente.

"E tambem temos a lenda de que nos viemos a existir porque compartilhamos da maldiçao de Cain, nosso primeiro pai...O que voce acha disso? Voce acredita?" Perguntou Gabriel, sua voz sincera e cheia de curiosidade.

"Eu devia te-lo matado...Ha muito tempo atras..." Disse uma voz bestial, rosnando de uma das sombras da sala, alta e poderosa de uma maneira em que nao se podia saber da onde o som estava vindo.

"Ah....Mas voce bem que tentou, e nao conseguiu. Ainda me lembro da primeira vez que nos enfrentamos no campo de batalha...o cheiro do campo molhado de chuva e encharcado de sangue, a luz do fogo queimando arvores verdes e carne humana, o som dos gritos de homens caidos e mutilados, metal contra metal deixando surdo pessoas a milhas de distancia. Disse Gabriel, ao dono da voz feral e continuou.

"Voce, um germanico vestido de peles de varios animais diferentes, sujo e com um machado velho de duas maos...Eu ainda lembro dos seus olhos, uma vontade de viver, de vingar a morte de centenas de pessoas da sua tribo, de defender o seu lar. Tive muita pena de voce e dos outros cães que estavam la naquela manha" Continuou Gabriel, ainda sentado e folhando o livro. Seu tom de voz era mais informativo do que cheio de desculpas.

"E voce tentou me matar muitas outras vezes ao passar de todas essas centenas de anos, e nunca conseguiu. Eu ja perdi a raiva de voce a muitos seculos atras, agora eu tenho uma extranha admiraçao, ja que voce veio a pertencer ao meu mundo tambem, e ainda ao mesmo tempo continuando no seu...Se voce quiser tornar essa nossa visita em mais uma oportunidade de testar a sua sorte, sinta-se a vontade. Apenas ouça-me primeiro." Disse Gabriel, levantando-se com o livro nas maos, e virando-se diretamente para onde a besta estava escondida nas sombras, olhando para a escuridao. Sua voz estava cheia de entendimento e seriedade, como se o que ele estivesse a prestes dizer fosse um peso qual ele quase nao era capaz de suportar.

"Continue..." Disse a fera ainda nas sombras, sua voz cheia de rancor e odio. So som da sua respiraçao, molhada e profunda, chiando e rosnando, era como se fosse um som de fundo que partia de todos os cantos da sala.

"Alguns eventos ja estao acontecendo, que vao garantir a destruiçao da maioria da populaçao do mundo, incluindo a populaçao do meu povo...e do seu primeiro povo tambem..." Gabriel disse essa frase com tanta certeza, e convicçao, seus olhos cheio de esperança e algo dentro de si disse a Besta que o que seguiria da boca de Gabriel poderia definir seu destino para sempre. A besta permaneceu em silencio, deixando o homem continuar.

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